O impacto do exercício físico na saúde mental
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O impacto do exercício físico na saúde mental

Confira a entrevista com o educador físico Charles Bortolini

Por Jonathas
22/03/2025 08:40
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Nas últimas semanas, a crise de saúde mental tomou os principais portais do Brasil. De acordo com dados do Ministério da Previdência Social obtidos com exclusividade pelo G1, os transtornos mentais em comparação com o último ano, afastaram quase meio milhão de pessoas. Em relação ao ano anterior, as licenças médicas representam um aumento de quase 68%. Dentro desse quadro, ansiedade e depressão são os que mais afastaram trabalhadores em dez anos.

De olho nesse diagnóstico, no último final de semana abordamos esse tema pelo angulo da psicologia, com uma entrevista com Saôni Mattei, disponível, também na editoria saúde do nosso site.

Agora, chegou a hora de saber quais os impactos da atividade física no equilíbrio mental. O papo de hoje é com o educador físico Charles Bortolini.

Como a prática de exercício físico pode ajudar no equilíbrio da saúde mental?

Muita gente não gosta de exercício físico porque vê como algo cansativo e que exige esforço, além disso, é preciso organizar o dia e abrir mão de outras atividades. Sei que não é uma tarefa fácil, mas depois que você termina o exercício, independentemente de qual seja, a sensação de bem-estar e felicidade é muito maior do que quando você começou. É por esse motivo que ele faz tão bem para a saúde mental.

Isso acontece porque o exercício físico libera hormônios que melhoram o humor e reduzem o estresse. Além disso, movimentar o corpo ajuda a diminuir a ansiedade, melhora o sono e aumenta a disposição no dia a dia.

O mais importante é entender que não precisa ser algo exaustivo para trazer estes benefícios. Uma caminhada, um treino leve na academia ou até mesmo em casa, por exemplo, já faz diferença e ajuda a manter a saúde mental em equilíbrio.

Quais são os cuidados antes de começar um exercício físico?

Quero destacar um dos maiores erros ao começar a se exercitar: a pressa. Muita gente, empolgada logo no início, decide treinar forte e várias vezes na semana. O problema é que, depois de 1 ou 2 meses, essa rotina puxada se torna cansativa e passa a ser vista como um sofrimento, levando a pessoa a desistir.

Se você não gosta de exercício físico ou está completamente sedentário(a), comece de forma leve. Duas ou três vezes por semana já é suficiente para criar o hábito sem tornar isso um sofrimento. Assim, provavelmente você vai começar a gostar cada vez mais e, com o tempo, pode aumentar a frequência e a intensidade. No início, é melhor treinar menos e manter a constância do que exagerar e desistir logo depois.

Além disso, o ideal antes de iniciar é procurar um médico para avaliar a tua saúde e um Profissional de Educação Física para montar uma rotina que faça sentido para você.

E nunca pule o aquecimento! Não importa se é academia ou um joguinho de futebol, vôlei ou padel no fim de semana. Começar o exercício sem aquecer aumenta muito o risco de lesão.

Por fim, saiba respeitar os sinais do teu corpo. Se sentir dores ou desconforto excessivo, pare e avalie o que aconteceu. Forçar demais em alguns momentos pode te afastar dos treinos ao invés de ajudar.

Hoje, existem grupos de pessoas que correm, pedalam, se exercitam juntas, mesmo em esportes individuais; uma rede de apoio pode ajudar?

Com certeza, uma rede de apoio pode fazer toda a diferença. Quando praticado com mais pessoas, o exercício físico não só melhora a saúde do corpo, mas também ajuda a estabelecer novas interações e conexões, como amizades e conversas. Isso diminui os impactos negativos do isolamento social, sendo muito importante principalmente para quem está lidando com questões como a depressão, por exemplo.

Do ponto de vista da saúde mental, é fundamental que esse grupo seja visto como uma fonte de motivação e interação, e não como um espaço de comparação. Essa visão cria um ambiente positivo, que traz grandes benefícios para o bem-estar.

Do outro lado, há também os esportistas amadores ou profissionais que competem e a pressão por resultados pode ser grande. Para esse grupo, quais as dicas para manter a saúde mental?

Essa questão é um pouco complicada, pois, a pressão por resultados é um grande desafio para a saúde mental. Para lidar com isso, é fundamental saber valorizar cada passo do processo, como a evolução nos treinos, por exemplo. Além disso, estabelecer metas realistas e celebrar cada pequeno avanço vão fazer o processo se tornar um pouco mais leve.

Porém, nada substitui o acompanhamento profissional. Ter o apoio de um psicólogo e/ou psiquiatra é essencial para lidar com a carga mental imposta pela competição e garantir que o atleta tenha o suporte necessário para enfrentar os desafios que surgem ao longo do processo. Infelizmente, há muitos atletas e clubes profissionais que ainda não têm em sua equipe um profissional especializado para auxiliar nessas questões.

Lidar com a pressão por resultados é uma parte importante do sucesso, mas manter a saúde mental é essencial para que o atleta possa render e se destacar.

Outro ponto fundamental é a questão estética. Pra quem chega agora em uma academia, pode ser um pouco amedrontador e quase inevitável se comparar. Quais os cuidados para evitar essa cilada do “corpo perfeito”?

É muito difícil não se comparar com os outros, você olha alguém e pensa: "Eu queria ter o corpo dessa pessoa", mas se você fosse conversar com ela, provavelmente descobriria que ela também tem sua própria ideia de corpo perfeito que quer alcançar e provavelmente também não está satisfeita com o corpo dela.

Isso acontece porque o "corpo perfeito" é uma ilusão, essa busca normalmente está ligada a padrões quase inalcançáveis. É muito importante você querer evoluir, melhorar a tua saúde e o teu corpo, mas esse processo não deve ser baseado em comparações. Valorize a tua evolução, mesmo que ela pareça pequena, pois o importante é o teu processo, e não o que os outros estão conquistando.

É importante reforçar que o exercício físico é um aliado muito importante para a saúde mental, mas nada substitui o acompanhamento de um psicólogo e/ou psiquiatra para lidar com cada uma das questões que nos incomodam. Não espere a situação piorar para procurar ajuda de um profissional, quanto antes você iniciar, mais fácil será lidar com as questões e melhorar a tua qualidade de vida de forma geral. Cuidar da mente é tão essencial quanto cuidar do corpo.




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