Uma história, essencialmente, nos conecta por dois extremos: semelhanças ou surpresas. Se ambas estiverem presentes, melhor ainda. No primeiro caso, em Um Homem de Sorte — disponível na Netflix —, a origem humilde, a tradição familiar e a herança cultural de um lugar no interior da Dinamarca poderiam facilmente ser transpostas para o nosso contexto.

Agora, por um instante, imagine-se no lugar do protagonista: uma peça desencaixada, um estranho dentro da própria casa. Como isso pode afetar não apenas a infância, mas toda a construção de um personagem que, mesmo ao sair do seu habitat, continua carregando consigo as duras marcas de suas origens?

A definição de um clássico mora na sua atemporalidade — e é exatamente isso que permitiu a um livro de mais de cem anos ganhar nova vida nas telas. O filme é uma adaptação de Lykke-Per, de Henrik Pontoppidan, obra que rendeu ao autor o Nobel de Literatura em 1917. Um século depois, a adaptação cinematográfica mantém a profundidade literária e uma verossimilhança com o real que é tão crua e surpreendente quanto a própria vida pode ser.