Seus pés calçam suas histórias?
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Seus pés calçam suas histórias?

Seus tênis externam sua personalidade

11/04/2024 08:44
Atualizado: 11/04/2024 10:49
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A estação das folhas se espreguiça em fins de tarde cada vez mais generosos na palheta de cores. A brisa que suaviza expressões, também leva consigo o verão de nossas peles. E os pés, começam a sumir em calçados cada vez mais distantes de suas bases.

O metrô é o transporte dos curiosos. É onde, nos deparamos frente a frente com um catálogo involuntário de pés. Não sei se foi em “Forrest Gump”, em “Extraordinário”, ou ainda, quando meus olhos não subiam muito além dos pés alheios, o que revela que sempre os analiso como um possível perito.

Os pés do Pelé, por exemplo, pagaram o preço d seu sucesso (não recomendo a busca por imagens). Dizem que o Cristiano Ronaldo chega a pintar suas unhas, o que, de acordo com ele, o protege de seus habitantes. Meus pés levaram por alguns anos, as marcas prematuras do futebol. Hoje, mais relaxados, até ostentam alguma marca de chinelo.

Vestir os pés é externar sua personalidade. Os introvertidos pisarão, em tese, em calçados leves e discretos. Já o nível de vaidade, pode ser proporcional ao quão novos são seus tênis. Se batidos, pode até ser herança de família. Atenção aos detalhes, um tênis muito limpo – da escala clareamento dental de jogador - pode ser resultado de toque ou terceirização de atividades básicas.

Sempre tive pés e mãos cheios, o que, por muito tempo, me desagradou. Há quem possa dizer que é o contrapeso do meu IMC de grafite. Mas, convenhamos, deve-se admirar um belo par de pés.

Esses dias, me deparei - avisado pela minha comparsa - com pés de quatro dedos. Primeiro, como vimos só um deles e, o que faltava era o dedo do meio, ficamos tentando conceber as especificidades de se perder precisamente esse dedo. Não é algo simples. Poderia render uma boa história. Depois, analisando o conjunto da obra, reconheci que o outro pé equalizava a questão. Pelo menos assim, não se enciumava. Aliás, qual seria a sua reação, questionada pela ingenuidade cruel de uma criança? Será que teria uma resposta pronta? Inventaria uma de acordo com o tom inquisitivo? Será que já conseguiria rir dessa extraordinariedade? Será que ela ia ao pedicure? O desconto era óbvio? São tantas perguntas que não cabem nas mãos.

Por falar nelas, ostento um dourado anelar que também me amedronta. Quando fui escolhido pelo raio do amor e a pedi, o fiz com um medo inédito e virginal. Percebi no ato, que mesmo me custando um dedo cheio, amar é se expor, inclusive pelo riso. Caetano nos conhece bem: “De perto, ninguém é normal”.

Escrito por Jonathas Koche




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