Homens armados com fuzis  incendiaram casa de cacique em Redentora.
POLÍTICA
727

Homens armados com fuzis incendiaram casa de cacique em Redentora.

Grupo rival ao cacique usou drone para planejar ataque

20/10/2019 20:59
Compartilhar
        


A casa do cacique da tribo kaingang Carlinhos Alfaiate, 52 anos, foi alvo de um ataque no final da tarde deste sábado em Redentora, 200 Km de Erechim, no noroeste do Estado. Segundo a polícia, 15 homens armados dispararam contra a residência e o veículo do líder da tribo. O cacique conseguiu escapar pelos fundos do imóvel, que fica na área indígena da Guarita. Munição de fuzil foi encontrada no local pela polícia.

Os homens incendiaram a residência, que ficou completamente destruída. Até a manhã deste domingo, Alfaiate ficou escondido na mata. Ele foi encontrado pela polícia sem ferimentos. Segundo testemunhas ouvidas pela investigação, um drone foi visto sobrevoando a casa pouco antes de os homens chegarem.

O delegado Roberto Audino, da Polícia Civil, afirma que o ataque ocorreu em meio à disputa de poder pela liderança da tribo envolvendo o cacique Carlinhos Alfaiate e o vice cacique Vanderlei Ribeiro, 46 anos, que lideram a tribo desde fevereiro de 2018. A Terra Indígena Guarita tem 23 mil hectares, localizados entre os municípios de Tenente Portela, Redentora e Erval Seco, e é composta por 7 mil integrantes.

— No decorrer das últimas semanas várias ocorrências foram registradas. Disparo de arma de fogo, ameaças e, na última quinta-feira, já ocorreu incêndio em uma residência em outro setor da área indígena, na cidade de Tenente Portela — relata o delegado Audino.

A ocorrência foi registrada na Delegacia de Polícia de Tenente Portela e será enviada ao Ministério Público Federal, que media o conflito entre os dois líderes da mesma tribo.

Alfaitate foi o primeiro líder kaingang eleito pelo voto direto, em 2000, e retornou ao cargo em fevereiro de 2018, após mais de uma década de liderança de Valdonês Joaquim.

O cacique vivia com a mulher e a filha de 14 anos na casa destruída pelo fogo. À reportagem, disse que estava em casa no sábado com a esposa quando o grupo de homens armados apareceu:

— Vi aquele barulho todo de tiro de arma e percebi que não era pouca coisa. Era muita gente atirando para o meu lado. Tive de recuar. Eles queriam acabar comigo. Minha esposa ficou e viu tudo. Despejaram gasolina e colocaram fogo na minha casa. Querem tomar meu cacicado à força. A maioria da comunidade não aceita e não concorda com isso.

O vice cacique confirma que o clima está tenso na região e que não se "consegue controlar o povo". Ribeiro, que chegou a se autoproclamar cacique na rádio Província FM no dia 28 de setembro, afirma que busca o diálogo e quer atuar como liderança ao lado de Alfaiate. Em outra entrevista, na mesma emissora de rádio, Alfaiate reafirmou sua liderança como cacique.

— A gente está sem voz para ajudar a comunidade. Só ele quer liderar. Os ânimos das famílias estão acirrados — afirma Vanderlei Ribeiro.

Devido ao clima de insegurança, duas escolas da reserva indígena estão com as aulas suspensas nesta segunda-feira.

Onde fica

A Terra Indígena Guarita tem 23 mil hectares e 7 mil integrantes. Sua área está espalhada entre as cidades de Tenente Portela, Redentora e Erval Seco.

AuOnline/GZH




Notícias Relacionadas